"A Pintura Cosmológica" por Sérgio Mourão



A pintura de Jorge Marques precisa de uma maior expansão junto do público. E precisa porque justifica essa difusão pelos valores e conteúdos que comunica.

Na verdade, a sua pintura contém valores de modernidade e futuristas que o artista representa com um saber cosmológico que é imanente à sua arte.
A sua presença no mundo das artes plásticas deve ser entendida como um compromisso de pintar mais e aparecer junto do público com uma constância que permita avaliar o que de notável a obra de Jorge Marques possui no seu conceptualismo, onde as luzes, as esferas e universos parecem oásis da imaginação poética.
As linhas de contorno, os cromatismos, as sugestões são suportes de uma invulgar força anímica que permite ao artista rebuscar o mistério do tempo e do espaço, com conteúdos onde paira, por vezes, o fascínio do génio humano, principalmente a síntese de um subconsciente que toca os limites de um neosurrealismo, exprimindo a vertente mágica do autor e universalizando as linhas e os planos que nos transcendem.
Eu sinto a paisagem lunar e o esplendor de outros sóis e galáxias na pintura cosmológica de Jorge Marques como se tratasse de um sonho ao qual só os visionários têm acesso. É este privilégio conceptual que confere à pintura deste artista a grandeza adequada de quem sabe criar, talhar e exibir uma técnica primorosa na execução da obra. E isto não sucede apenas nas linhas que traça, mas sobretudo nos diversos planos e vários segmentos que dão uma expressão de beleza e de equilíbrio aos seus trabalhos, como se de musicalidade se tratasse. Os traços circulares e as esferas, de uma visibilidade grandiosa, têm solidez plástica e são formalmente nucleares no desenvolvimento do seu trabalho plástico, formal e pictórico.
É flagrante, por exemplo, a maneira de resolver os motivos paisagísticos de uma natureza que não é familiar aos nossos olhos, e por isso mesmo, rodeada de poesia e mistério, como se os elementos fossem a cristalização da alma do pintor em busca de outros mundos. O espaço pictórico de Jorge Marques convida-nos a sonhar e a acreditar na vida, renovada de amplos horizontes, de entendimentos estilísticos, de sedutoras mineralizações, restos de lagos, como se quisesse assim anunciar as amplitudes e as perspetivas mais profundas que existem sempre adormecidas em cada ser.
As sugestões de bidimensionalidade completam a instauração da linguagem onírica do artista, refulgente de espiritualidade. Os elementos pictóricos não são utilizados como fins, mas regressam principalmente na facetação dos planos e das luminosidades, à sua condição de meios, exercendo forte influência, diria mesmo expressiva, na afirmação de uma natureza outra que documenta a dimensão interior do artista. E são esses meios criativos e estilísticos que motivam os encantos e as exaltações da sua obra, numa vaga de fundo do misterioso cosmos em que a natureza humana está também omnipresente.


                                                                                                                                           Sérgio Mourão



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